terça-feira, 30 de junho de 2009

Literatura - Enquanto isso, em Curitiba...

"Frio*

Por Cristovão Tezza**

Espero que essa terça-feira amanheça fria, muito fria, o termômetro descendo perigosamente para o número 9, isso dentro de casa, para ilustrar ao vivo minha crônica. Certamente meu plano não dará certo – nosso clima, como sabemos, não é confiável, e basta querer o frio, mesmo que por motivos egoístas, que ele não virá. Tudo para dizer que uma das marcas da paixão que eu aprendi a alimentar por Curitiba ao longo de cinquenta anos é o frio. Na verdade, era o frio, que me animava. Mas nessa altura da vida, em que tudo dói com mais capricho numa conspiração sinistra, começo a detestá-lo, a odiar esse gelo que chega à raiz da alma e que eu pensava já desaparecido pelo aquecimento global. Os verdes que me perdoem, mas que venha logo o aquecimento, senão global, pelo menos aqui nas redondezas.

Só de uma coisa eu gosto no frio curitibano: o azul que vem junto, quando calha de passar a chuva e a umidade. É raro acontecer, mas às vezes acontece – um céu de brigadeiro, azul inteiro, tão forte e nítido que parece não fazer parte da natureza; e junto com ele, é claro, vem o frio. Corremos para uma réstia de sol, aliás inútil, como um bicho acuado. O azul é a chave – é dele que alimentamos algum prazer, encarangados no paletó, e olhamos para o alto, como se lá do céu pudesse vir algum calor só pela força da súplica. [...]"

*Crônica reproduzida do site do jornal Gazeta do Povo. Clique aqui para ler o texto completo.

**Cristovão Tezza é escritor (de obras como Trapo, O Fantasma da Infância e O Filho Eterno), vencedor de inúmeros prêmios da literatura nacional e docente da Universidade Federal do Paraná. Este blogueiro teve o grande prazer de ter aulas com este mestre e doutor da língua, além da pessoa simples e divertida de Cristovão Tezza. Para ler mais, acesse o site oficial do escritor.

segunda-feira, 29 de junho de 2009

Internacional - O Estado golpeando o Estado, em Honduras

Está no Estadão:

"Lula diz que Brasil não reconhece novo governo em Honduras
Presidente afirma que é inaceitável que alguém tome o poder pela "via do golpe", sem eleição livre e direta

Daniela do Canto, do estadao.com.br

SÃO PAULO - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva condenou o golpe de Estado em Honduras que derrubou o presidente José Manuel Zelaya. As declarações foram feitas durante o programa de rádio Café com o Presidente, transmitido na manhã desta segunda-feira, 29. "Nós não podemos aceitar ou reconhecer qualquer novo governo que não seja o presidente do Zelaya, porque ele foi eleito diretamente pelo voto, cumprindo as regras da democracia", afirmou. "E nós não podemos aceitar mais, na América Latina, alguém querer resolver o seu problema de poder pela via do golpe, porque nós não podemos aceitar que alguém veja alguma saída para o seu país fora da democracia, fora da eleição livre e direta. E o Zelaya ganhou as eleições."
"

Clique aqui e tenha um panorama da crise política em Honduras.

Pois bem. Ao que parece, o presidente Manuel Zelaya, eleito por uma coligação de centro nas eleições de 2005, aproximou-se de Hugo Chavez e gostou das ideias do mesmo em realizar reeleições (não que isso seja algo bizarro, como já debati por aqui). A Constituição de Honduras, por sua vez, tem como cláusula pétrea o fato de não ser permitido reeleições no país - e a insistência do presidente em realizar um plebiscito para verificar a constitucionalidade dessa letra parece ter irritado os membros do Judiciário e do Legislativo, que em conjunto com o Exército mandaram o presidente descansar na Costa Rica.

O Presidente Manuel Zelaya, destituído do cargo em Honduras.

A questão aqui seria entender por quê. Amor à pátria, e consequente ódio àqueles que tentam ferir a Constituição? Pouco provável. O presidente Zelaya ainda se prestou o favor de tentar realizar um plebiscito - consequentemente, fazer a população escolher. Não lembro de nenhum grupo armado até os dentes invadir o Palácio de Fernando Henrique Cardoso, então presidente do Brasil, quando o mesmo moldou uma proposta de reeleição no país e a enviou ao Congresso - e este, a acatou.

O presidente instituído pelo Congresso, Roberto Micheletti.

Então, parece que os dois poderes (Judiciário e Legislativo) se uniram para expulsar um presidente alinhado à esquerda, justamente por este fato. Ainda, Zelaya decretou que as emissoras de TV e rádio exibissem um programa diário de duas horas do seu governo, alegando que a cobertura jornalística do país era tendenciosa. Ele também aderiu à Alba, o bizarro grupo de integração da América Latina promovido por Chavez. O presidente foi destituído "constitucionalmente". Até onde entendi, é um golpe no Governo dado pelo próprio Governo. Forma excêntrica, no mínimo.

Esperamos, então, respostas.

Confira a repercussão nos principais jornais clicando aqui, aqui e aqui.

sexta-feira, 26 de junho de 2009

Jornalismo - A luta, agora, pela valorização.

Retomando a discussão do diploma, algumas considerações:

1) Trecho do artigo retirado do Observatório da Imprensa:

"Ser ou não ser (diplomado), eis a questão
Por José Paulo Cavalcanti Filho em 26/6/2009
Reproduzido da seção “Tendências/Debates” da Folha de S.Paulo, 25/6/2009; intertítulos do OI

Não, o diploma dos jornalistas não acabou. A decisão do Supremo Tribunal Federal, na última semana, limitou-se a dizer que o decreto-lei 972/69 era incompatível com a Constituição democrática de 1988. Mais nada.

E merece elogios – por pretender, esse monstrengo da redentora, exercer o controle do jornalismo a partir do Estado. Era nele que estava, em regra acessória (artigo 4º, V), a exigência de diploma para registro dos jornalistas no Ministério do Trabalho.Ocorre que, tecnicamente, jamais poderia o STF declarar sem valor o decreto-lei e deixar vigendo uma de suas regras. Sem juízo de valor, no julgamento, sobre o dito diploma – que poderá voltar a ser exigido em outra lei. Apenas isso.

O mais são palavras ao vento. Inclusive as do eminente presidente Gilmar Mendes, que, mais uma vez, expressa opinião pessoal sobre tema que pode vir a ser discutido no Supremo – em vez da reserva que, como regra, a seus ministros conviria guardar em situações assim.
Isso posto, cabe então perguntar se, afinal, esse diploma é bom ou ruim para a cidadania."

Para ler o texto completo, clique aqui.

2) Gilberto Dimenstein

Para mim, ler esse nome era sinônimo de credibilidade, de confiança, de respeito. Ledo engano. O Sr Dimenstein, antes de ser um cabo eleitoral de José Serra e seus amigos do PSDB, é um inimigo da classe jornalística - pelo menos é assim que o próprio se coloca no artigo publicado também no OI (para ler clique aqui).

Diz o Sr Dimenstein: "Minha aposta é que serão criados cursos de curta duração, no estilo sequencial, com foco no mercado de trabalho. Com a decisão do STF, tirando os corporativistas, todos saíram ganhando a começar do leitor.
PS - Minha aposta: os cursos de jornalismo mais procurados serão uma versão um pouco mais ampliada dos treinamentos oferecidos atualmente em jornais e algumas revistas. Ou seja, centrados na prática e no contato com jornalistas em atividade. Fora disso, é para quem procura fazer teses de doutorado (o que, diga-se, é importante)".

Tirando a ironia fria e fora de contexto, ele contribui com o Sr Gilmar Mendes e esmaga a profissão e os cursos superiores de formação. O Sr Dimenstein sabe, melhor que eu, que os trainees dos jornais não formam jornalistas. Infelizmente, ele pisa em cima da principal ferida aberta pelo STF na última semana - considere leitor, que o Sr Dimenstein é jornalista formado pela Faculdade Casper Líbero. Decepcionante.

O sorriso irônico revela, talvez, o excesso de confiança do Sr Dimenstein?

3) Manifestação de estudantes e profissionais em Curitiba

Manifestação em Curitiba, em defesa da profissão.

Aconteceu aqui em Curitiba, na quarta-feira 24/06, uma manifestação de jornalistas e estudantes de jornalismo em prol da valorização da profissão. Cerca de 50 pessoas, além deste blogueiro, se reuniram na esquina das Marechais, no Centro da cidade, panfletaram e debateram com a população acerca da importância da formação para o campo jornalístico. Veja mais fotos no site do Sindijor-PR aqui.

4) Está no Estadão:

"PEC que pede diploma para jornalista será apresentada em julho
STF julgou como não obrigatório o diploma para o exercício da profissão; emenda já conta com 50 assinaturas
Agência Brasil

BRASÍLIA - A proposta de emenda à Constituição (PEC) que exige diploma de curso superior de comunicação social para o exercício da profissão de jornalista "será apresentada no mais tardar até as 18 horas da próxima quarta-feira, 1º de julho". A informação é do autor da proposta, senador Antônio Carlos Valadares (PSB-SE).
"

Espero que ao menos dê o que falar, e que não seja uma proposta meramente demagoga. Mas, será uma réstia de esperança?

Atualização às 16h48.

sábado, 20 de junho de 2009

Política - Sarneys novamente por aqui.

Está no Estadão:

"Procurador pede ao Senado dados sobre mordomo de Roseana
Conhecido como 'Secreta', Amaury Machado é do quadro do Senado, mas trabalha na casa da ex-senadora

Rosa Costa e Rodrigo Rangel, de O Estado de S.Paulo

BRASÍLIA - O procurador do Ministério Público junto ao Tribunal de Contas da União (TCU), Marinus Marsico, vai pedir informações ao Senado a respeito do desvio de função do servidor Amaury de Jesus Machado. Conhecido como "Secreta", Machado é do quadro efetivo do Senado, mas em vez de prestar serviço à instituição, trabalha há vários anos na casa da ex-senador e governadora do Maranhão, Roseana Sarney (PMDB). O caso foi revelado em reportagem publicada pelo Estado. Amigos de Roseana contam que "Secreta" é uma espécie de faz tudo, um mordomo administrador da sua casa. "

De novo, de novo você aqui?!

Quais são os adjetivos mesmo? Inacreditável, incrível, incredível, espantoso, ridículo. Todos os limites da moral, da ética, dos bons costumes, da honestidade, da ombridade, da honra, enfim, todos os limites sociais foram quebrados por esta família. A estirpe dos Sarney contamina o Brasil com as suas maracutaias no Senado e nos mais diversos postos de trabalho do Governo.

Se José Sarney ainda possuir um resquício de homem-humano nele mesmo, nessa próxima semana ele renuncia à cadeira de Presidente do Senado. E leva com ele toda sua mesa diretora.

Seja homem, Sarney!

Sem mais. (Leia mais sobre os Sarney clicando aqui, aqui e aqui)

quinta-feira, 18 de junho de 2009

Jornalismo - Quem sabe?

Quem sabe?
por Guilherme Sobota*

É com algum pesar com que venho falar no dia de hoje, 17 de junho de 2009. Quarenta anos depois da regulamentação da profissão jornalística, o Supremo Tribunal Federal definiu hoje a não-exigência do diploma para exercício da profissão.

O relator do Recurso Extraordinário 511961, Gilmar Mendes, conhecido por suas gafes e desacatos com a mídia, redigiu um voto, denominado pelos seus colegas e humildemente aceito por este estudante, magnífico. Exceto, obviamente, a peça de argumento em que ele compara os jornalistas aos cozinheiros – uma marca, ao menos, da excentricidade do Presidente do Supremo. Além disso, Mendes foi pontual, sucinto, talvez até justo. Denominou, na sua visão de advogado, os pontos que ele considerou inconstitucionais em relação ao Decreto-Lei 972/1969 (que exigia o diploma para exercício do jornalismo). Convenceu os outros ministros a votarem ao seu lado, usando argumentos limpos e claros. Ele ainda ressalvou que a formação em nível superior é, de fato, importante para o exercício da profissão.

Até aí, tudo bem. O que me deixou embasbacado foram os votos pronunciados pelos ministros Cezar Peluso e Carlos Britto (este o homem mais entendiante ao qual já ouvi). Ambos se pronunciaram, dentro da Corte máxima do país e em rede nacional de televisão e rádio, afirmando veementemente que o jornalismo não cabe dentro da sociedade como profissão. "O jornalismo é puramente intelectual, tem muito mais de arte do que de técnica" proferia o ministro Britto a plenos pulmões. "Veja Machado de Assis, veja Carlos Drummond de Andrade, Vinícius de Moraes: excelentes cronistas que nunca passaram por uma faculdade de comunicação" afirmava aos quatro ventos. Já o outro, quis jurar que o jornalismo não detém conhecimentos de fundamentação teórica. Que nele não se desenvolveram "verdades científicas" capazes de basear um diploma.

Dizer que não há nenhuma fundamentação teórica é possuir plena ignorância em relação à área. O ministro, com certeza, nunca ouviu falar em John Hohenberg, Robert Park, Maxwell McCombs, Adelmo Genro Filho, Perseu Abramo, Clóvis Barros Filho, Mário Erbolato, Nelson Traquina, etc, etc, etc.

O ministro Britto, com absoluta certeza, nunca assistiu, muito menos vivenciou, um dia de fechamento em uma redação de jornal ou revista. Nunca acompanhou um réporter em alguma estrada de terra esburacada pelo interior do Nordeste. Nunca, nunca, na sua vida, fez um trabalho de reportagem, de apuração de notícias, de gatekeeper, fotográfico, de filmagens televisivas, de entrevista gravada. Ele não tem o direito de falar que a profissão jornalística não possui elemento técnico algum. Claro que ela tem um quê artístico, mas não se resume a isso.

Ainda, ao comparar Machado, Drummond e Moraes a nós, simples (pré) jornalistas, ele erra, ou por um lado, ou por outro: ou por equiparar a genialidade dos três literatos ao texto jornalístico comum e técnico do cotidiano; ou por superestimar todos os jornalistas brasileiros e afirmar que todos detêm a capacidade com as letras que os três possuíram. Incrivelmente equivocado, o senhor ministro.

O único ministro presente divergente foi Marco Aurélio. Ele afirmou que não via em nenhum momento contradição entre o decreto de 69 e a Constituição de 88. Ele disse que a sociedade, ao longo destes quarenta anos, se adaptou às necessidades e criou um ambiente amigável com a obrigatoriedade. Ainda, ressaltou que os jornalistas, a partir do momento, teriam graduações distintas, ou mesmo apenas 2º grau completo, chegando ao extremo de jornalistas que cursaram apenas o ensino fundamental.

Pois bem. É de se dizer que a visão para o futuro ficou um pouco mais cinzenta com essa decisão. Eu não quero imaginar os milhares de aproveitadores que aparecerão no país se autodenominando "jornalistas". Quem sabe, o jornalismo possa virar um "bico", como era no início do século passado (isso, inclusive, determinou o jornalismo parcial, coronelista e inescrupuloso da primeira metado do séc. XX, liderado por Assis Chateaubriand e Irineu Marinho). Quem sabe, ele vire uma bandeira para lutas de esquerda contra o governo, ou vice-versa, perdendo assim seu caráter informativo e seu modelo social. Quem sabe, as redações virem um antro de desesperados por dinheiro, robôs automáticos de repetição dos ideais e posicionamentos dos donos dos grandes jornais, promovendo assim uma mídia desacreditada e fraca. Quem sabe?

Mas pelo outro lado, o jornalismo pode assim, ser valorizado. Quem sabe as escolas de Comunicação pelo país entendam que o ensino DEVE ser de qualidade, que os professores devem entender e fazer os outros entenderem, melhorando assim o criticado nível do ensino das mesmas. Quem sabe elas caiam na real de que agora, é pra valer. Quem sabe, os donos das grandes empresas de comunicação comecem a valorizar os jornalistas formados, comecem a enxergar nestes um valor perdido pela sociedade. Quem sabe aqueles que não tiveram uma oportunidade de cursar uma faculdade de Jornalismo possam entrar neste mundo cautelosos, ansiosos por conhecimento e pela formação de uma mídia mais independente, mais responsável, menos elitizada. Quem sabe o jornalismo resgate sua credibilidade, seu modelo de excelência. Quem sabe ele se torne um marco, uma profissão, sendo assim respeitado pelos ministros do Supremo.

Quem sabe?


* Guilherme Sobota é estudante de Jornalismo da UFPR


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Texto escrito originalmente para o Jornal Comunicação da Universidade Federal do Paraná, e publicado na versão Online do jornal no dia 17 de junho de 2009. Acesse clicando
aqui.

terça-feira, 16 de junho de 2009

Jornalismo - Profissão, como ela é.


Volta à pauta do STF amanhã (17/06) o Recurso Extraordinário 511961, que julga a regulamentação e a obrigatoriedade do diploma de jornalismo para o exercício da profissão. Transcrevo aqui um trecho de um texto de Nilson Lage¹:

"A quem interessa?
A argumentação jurídica utilizada por um promotor paulista para obter de uma juíza substituta a liminar (tecnicamente, a tutela antecipada) que suspendeu a exigência de formação universitária (chamá-la de diploma é assumir ressentimento comum em um país de iletrados) é absurda. A regulamentação profissional é muito clara quando estabelece as funções privativas dos jornalistas profissionais (repórter, redator, editor...): como os leitores de jornal, ouvintes de rádio ou espectadores de televisão sabem, qualquer pessoa pode manifestar-se nesses veículos sobre temas de sua especialidade, como articulista ou comentarista. A categoria também não rejeita, é até promove, o exercício amador do jornalismo em bairros carentes ou nas escolas de primeiro e segundo grau, como forma de estimular o aprendizado do idioma, o contato humano, a integração social e despertar a curiosidade de crianças e adolescentes em busca do conhecimento: nossa profissão apenas crescerá com o ingresso nos cursos de jornalismo de pessoas motivadas por essas iniciativas. A existência da profissão não significa, portanto, nenhuma restrição à liberdade de expressão – o que, aliás, é explicitamente estipulado na Constituição.

Ainda assim, a liminar foi mantida por um juiz no desempenho excepcional da função de desembargador. A partir desse momento, inexistindo temporariamente (até o julgamento do mérito), em todo o país, qualquer limitação ao exercício da profissão de jornalista, sindicatos e delegacias regionais do trabalho passaram a receber pedidos de registro de todo tipo de gente – alfabetizados alguns, analfabetos outros, vaidosos alguns, marginais outros. Vale tudo.

Um jornal paulista empenhado na campanha contra a formação universitária dos jornalistas por motivo pessoal de seu diretor regozijou-se. Parecia que estava vencendo uma batalha contra o “corporativismo” dos jornalistas e a “indústria do ensino”. No entanto, nenhum jornalista competente está de fato ameaçado pela proliferação de falsos jornalistas e nenhuma escola que tenha um currículo decente perderá alunos por isso: o curso de publicidade, onde não há limitação de formação específica ou superior (entre outras razões porque o responsável pela informação publicitária é, em última análise, o cliente, que a patrocina, informa e aprova), é um dos mais procurados.

A questão é outra. O interesse é do povo e, embora essa palavra esteja em desuso na sua anterior nobreza, da pátria. Na sociedade da informação, não importa apenas dispor de canais: é necessário produzir conteúdos claros, éticos e honestos. O desenvolvimento de padrões técnicos elevados, a expansão do jornalismo de qualidade a todo território do país, a instalação de sucursais e correspondentes no exterior são questões que envolvem a auto-estima da população das diferentes regiões, a perpetuação da cultura e da soberania nacionais, com as variedades que ela comporta; um conjunto de fatores que nos permitirá, algum dia, ver a nós mesmos e ao mundo com a perspectiva brasileira. Na sociedade globalizada, um jornalismo de má qualidade submergirá no mar de discursos imperiais e de valores homogêneos que se difundem com competência."

Clique
aqui para ler o texto na íntegra.

Provavelmente, o recurso não será julgado amanhã. Ele é o quinto tema da pauta. Para a classe, isso é uma total falta de consideração por parte do STF. Mas ainda, torcemos.

¹ Nilson Lage é professor titular de redação jornalística da Universidade Federal de Santa Catarina, com 47 anos de profissão. Doutor em Lingüística, Mestre em Comunicação. Fez cursos de graduação em Jornalismo e em Comunicação e Expressão Gráfica; programas de pós-graduação (mestrado e doutorado) em Lingüística, em Mídia e Conhecimento (Engenharia de Produção) e em Estudos de Jornalismo (especialização). Integrante das comissões do Exame Nacional de Cursos (1998, 1999, 2000, 2001, 2002) e da Avaliação das Condições de Ensino de Jornalismo da Sesu (2000) do INEP-MEC (2002).

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"O jornalismo é, antes de tudo e sobretudo, a prática diária da inteligência e o exercício cotidiano do caráter." (Cláudio Abramo)

sábado, 13 de junho de 2009

Política Internacional - A Confusão de Teerã

É manchete nos principais jornais:

"Ahmadinejad diz que eleição foi 'livre e saudável'" (Estadão)

"Ex-presidente iraniano defende anulação de eleição; candidato derrotado pede calma" (Folha)

É evidente que a situação no Irã não é das melhores. Por um lado, o ultraconservador Ahmadinejad afirma que as eleições foram livres de fraudes, e que a vontade do povo e a crença destes nas políticas do atual presidente é que garantiram a vitória. Por outro, o candidato derrotado Mir Hossein Moussavi conclama seus partidários para não aceitarem as mentiras da ditadura no Irã.

Mahmoud Ahmadinejad, presidente do Irã, afirma que as eleições foram legítimas. Tão legítimas quanto o Holocausto, senhor presidente?

Várias manifestações foram registradas em Teerã, capital do país. A maioria delas em favor de Moussavi. Os manifestantes gritavam "o governo mente para o povo" e "Ahmadinejad, vergonha para você. Deixe o governo em paz".

O líder supremo do Irã, o aiatolá Ali Khamenei resolveu não se meter na confusão política, e apenas recomendou ao povo para se juntar ao redor de Ahmadinejad, e afirmou que o resultado foi um "julgamento divino".

Com um sistema de governo peculiar (veja infográfico abaixo), o Irã, que insiste no programa nuclear e numa relação de ódio aos EUA (ao Ocidente, em geral, na verdade), só perde com esse episódio. Um sistema político falho se inicia na fraqueza do sistema eleitoral.

Infográfico da Folha. Clique para ampliar.

Nessas horas é de se louvar o sistema eleitoral brasileiro, tido como modelo em vários países, especialmente na América Latina.


Para ler mais sobre o assunto, clique aqui e aqui.

quarta-feira, 10 de junho de 2009

Jornalismo e Justiça - A decisão do STF


Volta hoje à pauta do Supremo Tribunal Federal o Recurso Extraordinário 511961, que define a regulamentação da profissão jornalística, e a exigência de diploma para o exercício da mesma.

O Mundo aguarda a decisão dos ministros com anseio: a regulamentação evita, na medida do possível, o amadorismo na profissão jornalística.

Volto hoje, ainda, para postar o resultado da discussão dos ministros.

Pois bem, como era de se esperar (devido à pauta densa do STF no dia de hoje), os ministros não chegaram nem a discutir o RE 511961. O site oficial do STF também não divulgou até o momento a data em que ele será relocado na pauta do Tribunal. A esfera jornalística ainda terá que aguardar mais algum tempo.

Comentário adicionado hoje (10/06), 23h00.

quinta-feira, 4 de junho de 2009

Jornalismo - A Folha Multiposicionada?

Está no Observatório da Imprensa:
LEITURAS DA FOLHA
O colunismo monocórdio
Por Maurício Caleiro em 4/6/2009

Ao menos desde a reforma promovida por Cláudio Abramo nos anos 1970, a Folha de S.Paulo passou a apresentar como uma de suas características distintivas a pluralidade opinativa. Embora a linha editorial se evidenciasse nas pautas, matérias e reportagens – e mesmo na escolha dos colunistas "da casa" –, havia espaço para uma plêiade de opiniões que cobriam virtualmente todo o espectro político-ideológico. A principal dificuldade metodológica para empreender uma pesquisa do conteúdo discursivo do jornal advinha justamente dessa tendência à pluralidade – que uns reconheciam como autêntica e efetiva, enquanto outros acusavam tratar-se de mero recurso dissimulatório para o conservadorismo do jornal e álibi para torná-lo palatável a um público mais amplo.

Essa configuração plural faz parte do passado. Ora não apenas o conteúdo opinativo produzido por convidados na seção "Tendências/Debates" (pág. A3) e por não-jornalistas na página A2 tornou-se muito mais homogêneo, com amplo predomínio de representantes dos setores conservadores (em que pese a presença da ex-ministra Marina Silva), mas o próprio corpo de jornalistas responsáveis pelas colunas de opinião tem apresentado maior coesão e identificação ideológica entre si, com as honrosas exceções de Carlos Heitor Cony e, sobretudo, Janio de Freitas. Tal característica tem evidenciado a guinada conservadora do jornal sob o comando do diretor de Redação Otavio Frias Filho, que, além de mondá-lo de acordo com sua orientação político-ideológica, vem tornando o jornal muito mais repetitivo e tendencioso.
[...]
A bola da vez é, nas palavras de Barros e Silva, a "máquina de propaganda do lulismo", tema de reportagem de Fernando Rodrigues publicada pelo jornal no dia anterior (31/5), que revelou que o governo Lula adotou "uma política radical e sistemática" de pulverização da verba publicitária entre diversos veículos e mídias em substituição à tradicional concentração nos grandes grupos de mídia. Vamos aos números:

"Em 2003, a Presidência anunciava em 499 veículos; em 2009, foram 2.597 os contemplados – um aumento de 961%. Discriminada por tipo de mídia, essa explosão capilarizada da propaganda oficial irrigou primeiro as rádios (270 em 2003, 2.597 em 2008), depois os jornais (de 179 para 1.273) e a seguir o que é catalogado como `outras mídias´, entre elas a internet, com 1.046 beneficiadas em 2008".

Repare o leitor que não há um pio quanto ao volume de capital destinada à publicidade governamental; o aumento é horizontal, ou seja, a verba foi distribuída a um número maior de órgãos.
Clique aqui para ler o texto completo.

terça-feira, 2 de junho de 2009

Política - Terceiro mandato? Hum?

Do blog Brasília, eu vi:

Por Leandro Fortes

A imprensa brasileira não vai descansar enquanto não arrancar do presidente Lula, ou de algum ministro de Estado, uma declaração favorável ao terceiro mandato. A insistência com que a mídia tem tratado do tema, em ondas ciclotímicas cada vez mais curtas, revela aquele tipo de interesse que nada tem a ver com os fatos ou, no limite, com demandas jornalísticas. Trata-se de uma campanha infernal para colar na imagem de Lula a pecha de “ditador chavista” às vésperas de um ano eleitoral, como se fosse possível, a essa altura do campeonato, estabelecer semelhanças ideológicas e de ação governamental entre o presidente brasileiro e seu colega, Hugo Chávez, da Venezuela. Há mais de dois anos, escrevi uma matéria na CartaCapital (“Eterno factóide”) a respeito do assunto, quando a onda do terceiro mandato tinha como objetivo contaminar as bases eleitorais do governo, com vistas às eleições municipais de 2008, quando ainda rescendiam brasas sobre os escombros do chamado “mensalão”. Lá, pelas tantas, escrevi:

“O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, além de ter sido beneficiado com a manobra da reeleição, colocada em prática via mudança da Constituição, foi um dos avalistas internacionais do terceiro mandato de Alberto Fujimori, do Peru. Tanto, e de tal forma, que Fujimori, atualmente às vésperas de ser julgado por crime de corrupção, tráfico de armas e genocídio pela Justiça peruana, arrolou FHC como testemunha”.

Incrível, né? Fernando Henrique Cardoso alterou a Constituição Federal, à custa de um escândalo de compra de votos no Congresso Nacional, para emendar um segundo mandato, com apoio irrestrito da mídia nacional. Em outro front, dava apoio político e diplomático a Fujimori, conhecido bandoleiro internacional, dado a censurar jornalistas e assassinar opositores, para que “El Chino” conseguisse um terceiro mandato no Peru. Sobre o que estamos falando mesmo? Ah, sobre o terceiro mandato, idéia rejeitada, sistematicamente, pelo supostamente (vocábulo adorado dos jornais, nos últimos tempos) principal interessado, a saber, o presidente Lula.

Clique
aqui para ler o texto completo.

O terceiro mandato é inconstitucional. Não está previsto na Legislação brasileira. Porém, o segundo mandato também não era. Até FHC mudar a Constituição e adaptá-la, à época, aos seus casos. Eu, e ninguém mais no Brasil, lembra da imprensa bombardeá-lo com perguntas inúteis e sem sentido, como fazem com Lula. FHC não foi autoritário, chavista, revolucionário. Lula é? Claro que não.

Em tempo, Franklin Roosevelt, presidente dos EUA na época da crise de 1929, foi presidente por 4 mandatos. Foi eleito em 1932, 1936, 1940 e 1944 - todos estes cumpridos depois de Roosevelt contrair poliomielite.

Em ordem, sentados: Winston Churchill, Franklin Roosevelt e Joseph Stalin, na Conferência de Yalta. 4 mandatos de Roosevelt, e só 4, devido à debilitada saúde.

Esse é só um exemplo, ilustrando que o terceiro mandato não é uma bizarrice digna dos comunismos mal sucedidos de sempre. Claro que eu não sou a favor de Lula continuar na presidência pelos próximos anos. Mas não hesitaria em refletir sensivelmente sobre isso defronte à candidatura de José Serra, FHC, Michel Temer, José Sarney, ou qualquer outro dinossauro da nossa fraca política.