terça-feira, 30 de junho de 2009

Literatura - Enquanto isso, em Curitiba...

"Frio*

Por Cristovão Tezza**

Espero que essa terça-feira amanheça fria, muito fria, o termômetro descendo perigosamente para o número 9, isso dentro de casa, para ilustrar ao vivo minha crônica. Certamente meu plano não dará certo – nosso clima, como sabemos, não é confiável, e basta querer o frio, mesmo que por motivos egoístas, que ele não virá. Tudo para dizer que uma das marcas da paixão que eu aprendi a alimentar por Curitiba ao longo de cinquenta anos é o frio. Na verdade, era o frio, que me animava. Mas nessa altura da vida, em que tudo dói com mais capricho numa conspiração sinistra, começo a detestá-lo, a odiar esse gelo que chega à raiz da alma e que eu pensava já desaparecido pelo aquecimento global. Os verdes que me perdoem, mas que venha logo o aquecimento, senão global, pelo menos aqui nas redondezas.

Só de uma coisa eu gosto no frio curitibano: o azul que vem junto, quando calha de passar a chuva e a umidade. É raro acontecer, mas às vezes acontece – um céu de brigadeiro, azul inteiro, tão forte e nítido que parece não fazer parte da natureza; e junto com ele, é claro, vem o frio. Corremos para uma réstia de sol, aliás inútil, como um bicho acuado. O azul é a chave – é dele que alimentamos algum prazer, encarangados no paletó, e olhamos para o alto, como se lá do céu pudesse vir algum calor só pela força da súplica. [...]"

*Crônica reproduzida do site do jornal Gazeta do Povo. Clique aqui para ler o texto completo.

**Cristovão Tezza é escritor (de obras como Trapo, O Fantasma da Infância e O Filho Eterno), vencedor de inúmeros prêmios da literatura nacional e docente da Universidade Federal do Paraná. Este blogueiro teve o grande prazer de ter aulas com este mestre e doutor da língua, além da pessoa simples e divertida de Cristovão Tezza. Para ler mais, acesse o site oficial do escritor.

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