segunda-feira, 3 de agosto de 2009

O perigo da "pandemídia"

Está estampado na capa da Folha de S. Paulo do dia 29/07: “Gripe suína faz SP adiar a volta às aulas”. A tal gripe suína, rebatizada várias vezes, vem causando um considerável alarde na população de modo geral. Abrigada pela sinistra denominação de “pandemia” (que soa mais monumental do que simplesmente “epidemia”), a gripe suína cresce sobremaneira na cobertura feita pela mídia nacional.

Em entrevista ao jornalista Paulo Henrique Amorim, o doutor Marcos Boulos, professor de moléstias infecciosas e parasitárias da Faculdade de Medicina da USP, e atualmente diretor da mesma, afirmou que a gripe H1N1, dentre as doenças infecciosas, é uma das menos graves. Ela é facilmente comparada à gripe sazonal, que se abate sobre a população todos os anos. Em dados percentuais, ela é fatal para apenas 0,1% dos infectados – ou seja, uma em mil pessoas que contraem a doença morre. Boulos garante que o sarampo mata em uma porcentagem 40 vezes maior, e a meningite, em 200 vezes. Segundo o professor, a cobertura da mídia é alarmista e não cumpre sua “função” num momento como o atual: a obrigação de evidenciar as maneiras de enfrentar a doença.

A cobertura sensacionalista, aliás, foi duramente criticada pelo ombudsman da Folha de S. Paulo, Carlos Eduardo Lins da Silva. Ele afirmou, na sua coluna semanal, que a manchete ‘Gripe suína deve atingir ao menos 35 milhões no país em 2 meses’, publicada no dia 19/07, “constitui em um dos mais graves erros jornalísticos cometidos por este jornal desde que assumi o cargo”. Também pudera – os dados expostos na manchete são taxativos, e baseados em outros dados sobre a epidemia da gripe aviária (H5N1), publicados em abril de 2006. O fato é que os dados mereciam cautela para serem explorados, justamente o contrário do que a Redação da Folha se utilizou no caso.

Ainda, é possível comparar o surto ‘assustador’ da gripe suína a outros acontecimentos fatais Brasil afora. Para ilustrar, algumas informações rápidas e de fácil acesso: de acordo com dados oficiais da OMS (Organização Mundial da Saúde), morreram no Brasil em 2007, 35,1 mil pessoas em acidentes de trânsito (note-se que o número real de mortes pode extrapolar em muito estes dados, visto que eles só contabilizam mortes no local do acidente). Dados oficiais da Previdência Social revelam que acidentes de trabalho causam 3 mil mortes por ano no país (dado que vem, com o passar do tempo, diminuindo). Segundo dados da Unesco, na década final do século XX morreram, em média, 32 mil pessoas por ano devido a armas de fogo no país. O estudo revela que esta média é superior a vários países que se encontravam em guerra. O mais impressionante, todavia, são os dados acerca da gripe sazonal. Os dados expostos pela mesma Folha de S. Paulo – claro, com um destaque menor – revelam que a gripe comum foi responsável por 17 mortes por dia em São Paulo, em 2008. Isso resulta em mais de 6 mil pessoas mortas devido à gripe comum e suas complicações no ano, só no estado de São Paulo.

Todos estes dados não deveriam, portanto, causar um alarde consideravelmente maior do que aquele atribuído à gripe espetacular da mídia?

A questão principal, por fim, é que a cobertura midiática sobre a gripe suína é, de fato, alarmista. Ela parece não refletir, majoritariamente, a gravidade real da situação. Por quê? Não sei. Sei que ela causa preocupações e concentra o noticiário em algo, talvez, desnecessário, exacerbado. Claro que o conteúdo noticioso da doença e principalmente as medidas profiláticas devem compor a pauta dos jornais do país – entretanto, guardadas as devidas proporções.

Somando tudo, resta decidir o que é pior: os grandes jornalões ignorando os princípios éticos do jornalismo, a desinformação, que eventualmente desvirtua o cidadão de questões de maior relevância, ou as crianças de São Paulo (e de milhares de outras cidades em vários estados que adotaram tal medida) comemorando o direito cedido pelo governador de não ir à escola.


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A sujeira de Sarney e cia aumentou a ponto tal, de até o presidente Lula, no seu tom "apaziguador", largar o presidente do Senado a sua própria sorte. (Créditos. Clique para ampliar).

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