quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Economia e Jornalismo - Incentivos fiscais e o assassinato do jornalismo

Manchete do Estadão de hoje:

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Estados e municípios arcam com corte de IPI
Mais da metade do IPI de móveis e materiais de construção, desonerados ontem, sairia de cofres estaduais e municipais

Adriana Fernandes, Renata Veríssimo e Marcelo Rehder, BRASÍLIA e SÃO PAULO

Numa operação de comunicação e oportunidade política, que aproveitou a presença de 31empresários em Brasília para a reunião do Grupo de Acompanhamento da Competitividade (GAC), o ministro da Fazenda, Guido Mantega, anunciou ontem novo pacote de incentivos fiscais. Os setores beneficiados desta vez foram a indústria de móveis e, mais uma vez, a construção civil. As medidas foram anunciadas um dia depois de o ministro apresentar o "IPI verde" para carros
".

Advinhem: é mentira. Para não usar uma palavra tão forte, é uma bela de uma falácia. Parte da arrecadação do IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) vai, de fato, para Estados e municípios. Porém, todos sabemos que o IPI não é o único imposto que incide sobre estes produtos: entre outros tributos, o
Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Prestação de Serviços (ICMS) talvez seja o mais significativo. E ele é destinado integralmente a Estados e municípios. Talvez o analista de economia do Estadão tenha relevado a análise político-econômica para apenas atacar, de alguma forma, o incentivo fiscal do Governo. A partir de uma dedução simples, é possível perceber que a redução do IPI gera um aquecimento na economia - por tabela, a arrecadação com ICMS também sobe (pesquisando um pouco na Internet, é possível encontrar analistas falando que esta arrecadação inclusive supera a "perda" com o IPI).

Engraçado é notar que os mesmos que agoram criticam os incentivos - mesmo que cegamente - são aqueles que reclamam inces- santemente da grande carga tributária do país.

O que se vê, falando de jornalismo, é a perda de qualquer limite entre a definição conceitual da profissão - desprendida da arte e da política -, e a prática realizada no país. Absurdamente lamentável, afinal.

O blog do Nassif ainda nos leva a outro flagrante deste assassínio do jornalismo, ao reproduzir um trecho do comentário da "jornalista" Miriam Leitão para o Jornal da CBN:

"Miriam - Segundo, tem que ter critério (…) ele deu ontem para móveis….moveis usam madeira; madeira tem, como, como todo mundo sabe…é…é…é…o setor pressiona o desmatamento, né? Têm empresas boas, que fazem isso de forma sustentável, etc".

A capacidade de análise da Miriam é proporcional a sua beleza.

É incrível a semelhança entre este comentário e o da Lúcia Hippolito, na semana passada, dizendo que a redução do IPI da linha branca causou o "apagão" daquele dia. O que a Miriam quis dizer é que a produção de móveis induz desmatamento - e que o Governo erra em incentivar a compra de mobília.

Leia sobre Lucia Hippolito e sobre o "apagão:
O Mundo - Política - Apagão?

O que eu vou dizer? Não sei, só sei que eu fico completamente abismado em noticiar tamanha falta de respeito com a profissão que eu estou aprendendo a amar.

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