O assunto da semana, para mim, mais uma vez, sim, mais uma vez, é o assassinato do jornalismo no Brasil.
Na sexta, 27, a Folha de São Paulo publicou um artigo do senhor Cesar Benjamin, um zé ninguém que participou do movimento estudantil nos anos 1970. Ele foi vice candidato na candidatura apocalíptica de Heloísa Helena em 2006 pelo PSOL, e é editor de livros. No referido artigo, este senhor traça uma melodramática narrativa, quase que literária se seu texto tivesse maior qualidade, expondo seu tempo de preso político na ditadura militar. Relembra de conhecidos, de suas experiências, e de seus dramas.
Cesar Benjamin, à esquerda na foto, com seus amigos Serra, Requião e Dias. Belo dream team, hein?
Depois de alguns parágrafos de uma autobiografia sem sentido, em plena FSP, o senhor Cesar Benjamin transpassa uma acusação direta, inescrupulosa e ressentida para a pessoa de Luis Inácio Lula da Silva. Acompanhe as palavras daquele senhor:
"[Numa reunião, em 1994] Lula puxou conversa: 'Você esteve preso, não é Cesinha?' 'Estive.' 'Quanto tempo?' 'Alguns anos...', desconversei (raramente falo nesse assunto). Lula continuou: 'Eu não aguentaria. Não vivo sem boceta'.
Para comprovar essa afirmação, passou a narrar com fluência como havia tentado subjugar outro preso nos 30 dias em que ficara detido. Chamava-o de 'menino do MEP', em referência a uma organização de esquerda que já deixou de existir. Ficara surpreso com a resistência do 'menino', que frustrara a investida com cotoveladas e socos.
Foi um dos momentos mais kafkianos que vivi. Enquanto ouvia a narrativa do nosso candidato, eu relembrava as vezes em que poderia ter sido, digamos assim, o "menino do MEP'..."
Qualquer comentário meu será desprovido de razão, ética, ou qualquer outro campo lúcido da elaboração textual. Vou deixar Luis Nassif responder às vis palavras:
"Quando a acusação é gravíssima e atinge o presidente da República – seja ele Sarney, Itamar, FHC ou Lula – o cuidado deve ser triplicado, porque aí não se trata apenas da pessoa, mas da instituição. Qualquer acusação grave contra um presidente repercute internacionalmente, afeta a imagem do país como um todo. Se for verdadeira, pau na máquina. Se for falsa, não há o que conserte os estragos produzidos pela falsificação.
[...]
A acusação é inverossímil. Na sexta conversei com o delegado Armando Panichi Filho, um dos dois incumbidos de vigiar Lula na cadeia. Ele foi taxativo: não só não aconteceu como seria impossível que tivesse acontecido.
Lula estava na cela com duas ou três presos. A cela ficava em um corredor, com as demais celas. O que acontecesse em uma era facilmente percebida nas outras.
Havia plantão de carcereiros 24 horas por dia. E jornalistas acompanhando diariamente a prisão.
[...]
Benjamin não diz que Lula cometeu o ato. Diz que ouviu o relato de Lula em 1994, em um encontro que manteve em Brasília com um marqueteiro americano, contratado pela campanha, mais o publicitário Paulo de Tarso Santos e outras testemunhas.
Conversei com Paulo de Tarso – que já fez campanha para FHC, Lula – que lembra do episódio do americano mas nega que qualquer assunto semelhante tivesse sido ventilado, mesmo a título de piada. E nem se recorda da presença de Benjamin no almoço".
A Folha atingiu todos os limites éticos e morais da profissão. Jogou no lixo sua história de pluralidade (como há tempos vinha fazendo). Assassinou, de dentro para fora, o jornalismo brasileiro. Tudo isso em nome do que? Ódio? Vontade de controlar o país? O quê?
Leia mais sobre este desastre para o jornalismo:
Perdoem-me, leitores, o lugar-comum do texto retórico. Mas é incrível perceber, aos poucos, que a imprensa praticada no Brasil é tão vil quanto a política da terra brazilis.
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O PFL, digo, DEM, da direita reacionária do sudeste fez cair sua máscara. Será que a Veja vai dar capa pra isso? Duvido. (Charge do Duke retirada do Charge Online).